Por Juliane de Oliveira
Fui criada num longínquo recanto onde a cidade mais próxima ficava a 20 km de distancia, era um município com menos de cinco mil habitantes naqueles anos. Meus pais, três irmãos e eu morávamos longe de praticamente tudo, menos longe de nós mesmos e das outras pessoas que moravam ao redor. Convivi com a proximidade humana do jeito mais literal e bonito possível.
Depois de algum tempo, viemos para a cidade. Meu pai passava muitos dias fora de casa a trabalho e nós, na época crianças (hoje, não mais), estávamos em formação e precisávamos da presença dele. Na cidade, não tínhamos metade do que tínhamos no sítio, mas tínhamos muito mais opções que lá. Estudar era mais fácil, assim como, fazer compras, realizar consultas médicas, etc. Mas não tínhamos mais, logo ali ao alcance das mãos, o pomar carregado de frutas o ano todo; nossa horta teve que ser comaçada do zero e demorou algumas semanas até podermos comer as primeiras verduras… E, mais importante, lá não existia vizinhos
Como assim? É. Não tínhamos mais vizinhos. Havia pessoas que moravam bem do lado de casa, mas elas não eram vizinhança. Não no meu conceito. Na minha maneira de ver, vizinhos conversavam, “tomavam um mate” (o popular chimarrão aqui no sul), dividiam aquele pomar enorme que produzia de tudo que é fruta conosco, e até se ajudavam quando precisavam. E essa ajuda ia muito além de emprestar uma colher de açúcar.
Na escola da cidade, as coisas também eram diferentes… Amigos não visitavam a casa uns dos outros a menos que se conhecessem desde muito tempo, amigos não brincavam juntos. Para me enturmar, como nunca fui muito “menininha” e geralmente me irritava com as meninas, comecei a praticar esportes com os meninos (handebol, futsal, queimada, etc.). Não entendia aquele tipo de amizade, mas convivi muito bem com ela até vir par faculdade.
Três anos e meio atrás, decolei daquela cidadezinha de 27 mil habitantes e pousei nessa aqui, de 300 mil. Não preciso dizer que, aqui, a noção de amizade é bem mais estreita que era lá, preciso? Pois é, lá, pelo menos, as pessoas sabiam o nome de quem morava ao lado das suas casas. Aqui nem isso e, na maioria das vezes, se recusam a descobrir. Não vejo muitas pessoas conversando, mas tem muita gente, pra lá e pra cá, no seu celular e, certamente, no computador. Gente que anda sozinho, que come sozinho, que vive sozinho…
Dizem que a internet e as novas tecnologias da informação e comunicação revolucionaram as relações interpessoais. Mas é incrível como, para algumas pessoas, dizer “bom dia” pra quem está do lado é ruim. No entanto, liga-se para milhas de distancia para desejar à alguma pessoa um dia bom. Não que isso seja ruim, mas essa é uma contatação que mostra que a valorização do ser humano, enquanto ser presente, se torna cada vez mais escassa.
Estou no ultimo ano da minha faculdade e ainda não acostumei com o jeito que as pessoas se relacionam aqui na cidade. Não se olham nos olhos, dificilmente sorriem ou abraçam. É um “quê” de beijinho no rosto, uns apertos de mãos sem força e sem segurança e conversas superficiais. Apenas…
Conforme fui amadurecendo, pude perceber uma grande reconfiguração de espaços e relações. Hoje, entendo que essas novas dimensões de afinidade se dão por uma série de coisas (como rotina de vida corrida, violência urbana, etc.) com as quais eu ainda não acostumei, e, certamente, nem quero acostumar. Se as pessoas pensam que são felizes assim, discutir pra quê?
Texto retirado do Blog La Ragazza di Parole
Achei um excelente texto, mesmo sendo curitibano e não conhecendo meus vizinhos... E apesar da indireta...
Nem vem, nem vem!
ResponderExcluirNem vem o que????
ResponderExcluirA eu senti como indireta sim... Mas tudo bem... O seu texto é excelente...